Blog do Instituto Casa de Autores, uma organização sem fins lucrativos cujo objetivo é fomentar a leitura e qualidade dos escritores no Brasil.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

O Mar


Cantiga para olhar o Mar
Não me canso de olhar
Não me canso de amar
Não me canso de olhar o mar
Não me canso de amar o mar
O mar amar
Amar o mar
Quando o céu encontra o mar
No distante espaço de sonhar
O infinito se faz pequeno em nós
O silêncio se faz nossa voz
O pensamento vai longe e pousa insistente
Onde a vida não é mais que um instante.
O mar, com seu ir e virFaz a alma sorrir
Borda em saudade, uma teia de conchas na areia
Encanta como o canto da sereia.
Quem entende o mar assim
Ancora barcos no jardim
E sabe contemplar o mar
Mesmo quando mar não há
Quem sabe ouvir o mar
Aprende a se encantar
Faz da imensidão o seu quintal
Carrega em lágrima e suor o mesmo sal
Meu olhar encontra o mar
E mesmo quando mar não há
Sua imensidão repousa em mim
Guardada no lá, bem dentro assim!
Alessandra Roscoe

Crônicas Portuguesas III – Aquesta lingoa

Aquesta lingoa que traduzo em versos
há convertido imenso gentio.
E, por Todos os Santos, na Bahia,
virou em recôncavo o convexo.
Do Côa ao Amazonas, passando pelo Anil,
com espada e fé espalhou seu léxico.
Fosse à força ou de modo sutil,
de Portucale, fez-se do universo,
bebendo o sangue da gente pagã,
nas conquistas de Ceuta e de Goa,
a pregar, pia, a palavra cristã.
Mas, libertada de tanta luta vã,
é com amor que a memória a ecoa
e, com prazer, a bebe toda a manhã.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Crônicas Portuguesas

I - Moinhos

Esses moinhos de vento,
qual bandeiras a agitar;
a arar os ricos ares
de aquém e d'além mar.
Nem de longe semelham
os mastros a tremular,
junto às costas dos brasis,
com seu brasão armilar.
No cimo dos montes, moem
os volts que hão de torrar
milhões de euros carrascos
a esta terra a castigar:
deram-te estatuto europeu,
mas não te fizeste par.

II - Castelo de São Jorge

O eléctrico leva ao castelo
a fantasia da dominação
no jogo do banco imobiliário
entre mouros, judeus e cristãos.
Mas todos os pisos foram tomados
pela rota banca internacional
que, no jogo de azar de Wall Street,
reside o poder sobre o bem e o mal.
E embora seja grande o Tejo
Nova York arrematou todo o mar.
Nem São Jorge, com lança e dragão
arranham o império militar.
Restam aos miradores de Lisboa
saudades dos Templários de Tomar.