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terça-feira, 2 de abril de 2013

A necessidade da estrutura na escrita de romances


Uma vez definida a premissa, o próximo passo lógico é definir a estrutura da história.

A estrutura pode ser desde algo simples (status quo inicial, conflito, resolução do conflito, novo status quo), até algo altamente sofisticado (como a "Jornada do Herói" sugerida por Joseph Campbell em seu livro "O Herói de Mil Faces"), passando por estruturas intermediárias, como a sugerida por Syd Field em seu "Manual de Roteiro" (status quo inicial, ponto de virada inicial – conflito –, desenvolvimento da história, ponto de virada 2, clímax – resolução do conflito –, novo status quo).

Uma das estruturas mais conhecidas é "A Jornada do Escritor", de Christopher Vogler, que basicamente pegou o trabalho de Campbell, focado mais na área de psiquiatria, e o trouxe para o mundo dos escritores e roteiristas.

Primeiramente, gostaria de reforçar a necessidade (atenção, não é "importância", é "necessidade", mesmo) de conhecer e utilizar a estrutura para escrever qualquer texto literário.

Começando pelo básico: "Início-Meio-Fim" não é uma estrutura para uma estória. Uma lista de supermercado já tem isso. E, no entanto, tem muita gente que escreve estórias justamente com essa estrutura, por incrível que pareça – eu sei, já li muitas assim!

Um exemplo? "Era uma vez três porquinhos que saíram da casa de sua mãe para viverem por conta própria (Início – apresentação do status quo), construíram suas casas (Meio – desenvolvimento do tema) e viveram felizes para sempre (Fim – conclusão do tema).

"O escritor original não é aquele que não imita ninguém, mas aquele que ninguém consegue imitar"
François-René de Chateaubriands, escritor fundador do Romantismo na França

A estrutura mínima de uma estória seria: "Início – Conflito – Desenvolvimento do conflito – Resolução do conflito – Conclusão". Sem perder tempo com mais detalhes (acho que ficou bem claro...), uma estória sem conflito não é uma história, não dá certo falar de porquinhos sem falar também do lobo.

Acredito que todo escritor, por mais iniciante que seja, irá concordar que uma "estrutura mínima" como esta aparece em qualquer história, salvo raríssimas e honrosas, ou nem tanto, exceções.

Também acredito que qualquer escritor pode ver que "seguir essa estrutura" não vai "engessar seu trabalho", não vai "ferir sua arte" nem "podar sua criatividade".

Pois bem: o mesmo se aplica à estrutura proposta por Christopher Vogler. A questão não é que minha estória precise se ater à estrutura sugerida por Vogler, muito pelo contrário: se minha estória for bem escrita, ela, digamos, "automaticamente" segue a estrutura.

Parece metafísico? Concordo! Mas isso ocorre justamente porque Vogler baseou seu trabalho nos estudos de Joseph Campbell, que estudou inúmeros mitos e extraiu deles a "estrutura comum", os pontos principais da estória, além de outras coisas muito interessantes para os escritores – como os arquétipos mais comuns nessas histórias, de que podemos falar em posts futuros.

Dito isso – e, se você não estiver ainda convencido(a), leia "A Jornada do Escritor" do Vogler, que defende a ideia bem melhor do que eu... – gostaria de destacar alguns pontos importantíssimos sobre a estrutura das histórias:

  • Estrutura é TRILHA, não TRILHO. Se você a seguir demais, ela engessa sua narrativa e torna a estória cartesiana, sem graça e sem inspiração. Se por outro lado você não a seguir, você pode (e normalmente vai) se perder!

  • A estrutura pode ser utilizada antes da produção de texto (é o ideal), para definir os pontos principais da estória, ou depois da produção, para descobrir falhas em suas tramas.

  • Erro comum: a estrutura é para o autor organizar seu trabalho, não para o leitor! Você planeja com a estrutura e, na hora de escrever, se você trabalha direito, a estrutura "some" do livro.

  • Ao escrever, a natureza criativa do trabalho muitas vezes provoca alterações na estrutura planejada. Isso é normal, a estrutura é algo dinâmico, ajustável conforme a necessidade da estória.

  • A estória final pode ter mil meandros a mais, e pode ter vários pontos a menos. Nem tudo da estrutura precisa ser contemplado na estória. A estrutura sugerida por Vogler tem 12 pontos, mas você pode fazer uma estória excepcional usando essa mesma estrutura, tirando três ou quatro pontos dela, por exemplo.

  • Os obstáculos, locais e conflitos das estruturas podem ser externos ou internos, físicos ou psicológicos. O "herói" pode ser um homem comum, o "mundo especial" pode ser uma mudança forçada de atitude, a recompensa pode ser apenas o aprendizado. Abra sua mente!

  • A ordem cronológica implícita na estrutura não precisa ser a ordem final de leitura do livro. Ao escrever, o autor tem liberdade total para trocar de ordem qualquer dos pontos da estrutura – desde que isso faça sentido em sua obra, é claro!

  • É possível escrever uma estória sem utilizar uma estrutura? Sim, é claro! Acabei de fazer isso em meu romance (ainda inédito) "As incríveis memórias de Samael Duncan". Só que, quando terminei – após MUITO suor, trabalhar sem estrutura é terrível! – descobri que o resultado, afinal, seguia uma estrutura muito bem definida; a estrutura "nasceu" da organização natural do trabalho. A estrutura é uma coisa intrínseca ao romance; quer você queira, quer não, ela estará lá.

Pensando assim, podemos ter a impressão oposta: Se a estrutura é TÃO flexível, para que serve, afinal? Ora, como dizia um general famoso, "Nenhuma batalha nunca foi ganha de acordo com o plano... Mas nenhuma batalha nunca foi ganha sem um plano!".

No fundo, é apenas e exatamente isto: se você quer escrever profissionalmente, trabalhe profissionalmente. Trabalhando de maneira organizada seus resultados sairão mais rápido e com melhor qualidade – que é o que se espera de um profissional, em qualquer área.

Alexandre Lobão

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