Uma vez
definida a premissa, o próximo passo lógico é definir a estrutura da história.
A
estrutura pode ser desde algo simples (status quo inicial, conflito, resolução
do conflito, novo status quo), até algo altamente sofisticado (como a
"Jornada do Herói" sugerida por Joseph Campbell em seu livro "O
Herói de Mil Faces"), passando por estruturas intermediárias, como a
sugerida por Syd Field em seu "Manual de Roteiro" (status quo
inicial, ponto de virada inicial – conflito –, desenvolvimento da história,
ponto de virada 2, clímax – resolução do conflito –, novo status quo).
Uma das
estruturas mais conhecidas é "A Jornada do Escritor", de Christopher
Vogler, que basicamente pegou o trabalho de Campbell, focado mais na área de
psiquiatria, e o trouxe para o mundo dos escritores e roteiristas.
Primeiramente, gostaria de reforçar a necessidade (atenção, não é
"importância", é "necessidade", mesmo) de conhecer e
utilizar a estrutura para escrever qualquer texto literário.
Começando pelo básico: "Início-Meio-Fim" não é uma estrutura
para uma estória. Uma lista de supermercado já tem isso. E, no entanto, tem
muita gente que escreve estórias justamente com essa estrutura, por incrível
que pareça – eu sei, já li muitas assim!
Um exemplo? "Era uma vez três porquinhos que saíram da casa de sua
mãe para viverem por conta própria (Início – apresentação do status quo),
construíram suas casas (Meio – desenvolvimento do tema) e viveram
felizes para sempre (Fim – conclusão do tema).
"O escritor original não é aquele que não imita ninguém, mas aquele
que ninguém consegue imitar"
François-René de Chateaubriands, escritor fundador do Romantismo na França
François-René de Chateaubriands, escritor fundador do Romantismo na França
A estrutura mínima de uma estória seria: "Início – Conflito –
Desenvolvimento do conflito – Resolução do conflito – Conclusão". Sem
perder tempo com mais detalhes (acho que ficou bem claro...), uma estória sem
conflito não é uma história, não dá certo falar de porquinhos sem falar também
do lobo.
Acredito que todo escritor, por mais iniciante que seja, irá concordar
que uma "estrutura mínima" como esta aparece em
qualquer história, salvo raríssimas e honrosas, ou nem tanto, exceções.
Também acredito que qualquer escritor pode ver que "seguir essa
estrutura" não vai "engessar seu trabalho", não vai "ferir
sua arte" nem "podar sua criatividade".
Pois bem: o mesmo se aplica à estrutura proposta por Christopher Vogler.
A questão não é que minha estória precise se ater à estrutura sugerida
por Vogler, muito pelo contrário: se minha estória for bem escrita, ela,
digamos, "automaticamente" segue a estrutura.
Parece metafísico? Concordo! Mas isso ocorre justamente porque Vogler
baseou seu trabalho nos estudos de Joseph Campbell, que estudou inúmeros mitos
e extraiu deles a "estrutura comum", os pontos principais da estória,
além de outras coisas muito interessantes para os escritores – como os
arquétipos mais comuns nessas histórias, de que podemos falar em posts futuros.
Dito isso – e, se você não estiver ainda convencido(a), leia "A
Jornada do Escritor" do Vogler, que defende a ideia bem melhor do que
eu... – gostaria de destacar alguns pontos importantíssimos sobre a estrutura
das histórias:
- Estrutura é TRILHA, não
TRILHO. Se você a seguir demais, ela engessa sua narrativa e torna a
estória cartesiana, sem graça e sem inspiração. Se por outro lado você não
a seguir, você pode (e normalmente vai) se perder!
- A estrutura pode ser
utilizada antes da produção de texto (é o ideal), para definir os pontos
principais da estória, ou depois da produção, para descobrir falhas em
suas tramas.
- Erro comum: a estrutura é
para o autor organizar seu trabalho, não para o leitor! Você planeja com a
estrutura e, na hora de escrever, se você trabalha direito, a estrutura
"some" do livro.
- Ao escrever, a natureza
criativa do trabalho muitas vezes provoca alterações na estrutura
planejada. Isso é normal, a estrutura é algo dinâmico, ajustável conforme
a necessidade da estória.
- A estória final pode ter mil
meandros a mais, e pode ter vários pontos a menos. Nem tudo da estrutura
precisa ser contemplado na estória. A estrutura sugerida por Vogler tem 12
pontos, mas você pode fazer uma estória excepcional usando essa mesma
estrutura, tirando três ou quatro pontos dela, por exemplo.
- Os obstáculos, locais e
conflitos das estruturas podem ser externos ou internos, físicos ou
psicológicos. O "herói" pode ser um homem comum, o "mundo
especial" pode ser uma mudança forçada de atitude, a recompensa pode
ser apenas o aprendizado. Abra sua mente!
- A ordem cronológica
implícita na estrutura não precisa ser a ordem final de leitura do livro.
Ao escrever, o autor tem liberdade total para trocar de ordem qualquer dos
pontos da estrutura – desde que isso faça sentido em sua obra, é claro!
- É possível escrever uma
estória sem utilizar uma estrutura? Sim, é claro! Acabei de fazer isso em
meu romance (ainda inédito) "As incríveis memórias de Samael
Duncan". Só que, quando terminei – após MUITO suor, trabalhar sem
estrutura é terrível! – descobri que o resultado, afinal, seguia uma
estrutura muito bem definida; a estrutura "nasceu" da
organização natural do trabalho. A estrutura é uma coisa intrínseca ao
romance; quer você queira, quer não, ela estará lá.
Pensando assim, podemos ter a impressão oposta: Se a estrutura é TÃO
flexível, para que serve, afinal? Ora, como dizia um general famoso,
"Nenhuma batalha nunca foi ganha de acordo com o plano... Mas nenhuma
batalha nunca foi ganha sem um plano!".
No fundo, é apenas e exatamente isto: se você quer escrever
profissionalmente, trabalhe profissionalmente. Trabalhando de maneira
organizada seus resultados sairão mais rápido e com melhor qualidade – que é o
que se espera de um profissional, em qualquer área.
Alexandre Lobão
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