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quarta-feira, 11 de setembro de 2013

A arte da leitura



Leitura e prazer são indissociáveis. São elos de uma cadeia ligados pelo amálgama que cimenta um dos objetivos do ser humano: ser feliz. Assim é a leitura. Ela passa pelo prazer de descobrir algo novo, de sair da realidade e entrar em outra dimensão onde tudo se processa de forma prazerosa.

Reportemo-nos, então, ao escritor francês Daniel Pennac[1], cujo livro “Como um romance” foi publicado no Brasil em 1993, portanto, há 20 anos, e que ainda contém o frescor de notícias novas.

Para os que se esqueceram do prazer proporcionado pela leitura, o autor diz:

Eles tinham simplesmente esquecido o que era um livro, aquilo que ele tinha a oferecer. Tinham se esquecido, por exemplo, que um romance conta antes de tudo uma história. Não se sabia que um romance deve ser lido como um romance: saciando primeiro nossa ânsia por narrativas”.
           
Fala-se muito das inúmeras dificuldades de se incrementar a leitura: a ausência de bibliotecas nas escolas e o preço do livro estão entre as mais citadas. A despeito de todas as variáveis que influenciam o processo de formação de leitores, sabe-se que a literatura infantil tem conseguido espaço considerável junto a escolas e crianças, do maternal aos primeiros anos da escolaridade básica.

Vamos nos debruçar, então, sobre um aspecto positivo da questão, ou seja, sobre o fato de que cada vez mais as escolas estão empenhadas em desenvolver atividades focadas nos eventos de leitura. Em consequência, mais histórias são lidas e contadas e mais crianças são seduzidas pela magia da leitura.

Quando se fala em leitura, ela parece se subdividir em duas atividades: ler e contar. Um dos traços distintivos delas é que, ao se ler a história, ela é apresentada preservando as palavras escolhidas pelo autor. O leitor deve se manter fiel ao que está escrito.

Por outro lado, na contação da história a trama pode sofrer pequenas modificações, já que o contador tem a liberdade para improvisar e agregar elementos a ela. Ele nunca conta a história da mesma forma.

Parece-nos que o foco não deve ser a característica dicotômica das duas atividades, mas sim o “acontecer”. Ler ou contar, tanto faz, desde que mais e mais crianças tomem intimidade com as leituras, com as ilustrações, com os autores, com os ilustradores, enfim, com o mundo mágico dos livros.

O mais importante é que ler ou contar proporcione um prazer tão duradouro que as crianças, ao se tornarem adultas, nunca se esqueçam do que é um livro.

Rubem Alves[2] tem sua receita:
[...]

Se eu fosse ensinar a uma criança a arte da leitura, não começaria
com as letras e as sílabas.

Simplesmente leria as histórias mais fascinantes que a fariam entrar
no mundo encantado da fantasia.

Aí, então, com inveja dos meus poderes mágicos, ela quereria que eu
lhe ensinasse o segredo que transforma letras e sílabas em histórias.
É assim. É muito simples.”

ElbaGGomes



[1] PENNAC, Daniel. Como um romance. Rio de Janeiro: Rocco, 1993.
[2] ALVES, Rubem é um psicanalista, educador, teólogo e escritor brasileiro. É autor de livros e artigos abordando temas religiosos, educacionais e existenciais, além de uma série de livros infantis.

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