O dinheiro tem um significado simbólico que precisa
ser entendido para poder ser bem manejado. Em nossa sociedade, ele é símbolo de
status, poder, segurança e liberdade. E também está associado, equivocadamente,
a afeto. O sistema nos ensina a materializar as relações afetivas e por conta
disso crescemos misturando dinheiro com amor.
A
capacidade de gerar renda normalmente está ligada ao trabalho e ao mundo
externo. Dessa maneira, conseguir dinheiro está conectado ao universo masculino
que, antropologicamente falando, foi programado para ir “à caça”. Naqueles tempos,
cabia à mulher aconchegar e nutrir emocionalmente sua prole.
Com
as mudanças da sociedade e o crescimento do mercado profissional, nós, mulheres,
passamos “a ir à caça” também. E com isso temos um novo desafio: conciliar nossa
capacidade de produzir rendimentos, sem perder nossa feminilidade e habilidade cuidadora.
Precisamos lembrar que, antes de sermos mães, um dia
fomos filhas. Por isso, para educar nossos filhos financeiramente, é importante
parar pra refletir sobre o que nos foi ensinado sobre dinheiro, especialmente por
nossos pais e outras pessoas importantes de nossas vidas.
Aprendemos a depender de alguém ou a gerar nosso
dinheiro e construir uma carreira sólida para nos manter financeiramente? Aqui
não tem certo e errado, melhor ou pior. Precisamos, apenas, ter nossa própria
vivência como ponto de partida.
Quantas
de nós, desde a infância, fomos ensinadas a cuidar do outro e a nos preocupar
com quem estava por perto? Aprendemos e nos tornamos especialistas em agradar o
outro! E, ainda, fomos também incentivadas a nos colocar em último lugar! Uma maneira fácil de detectar isso é
perceber se você já se viu querendo demonstrar seu profundo bem querer por
alguém – especialmente os filhos – comprando presentes caros que, muitas vezes,
estavam fora de sua realidade econômica.
Infelizmente,
é muito comum ver mulheres que têm uma atividade laboral intensa, adquirindo
muitas coisas para a casa, o marido e os filhos, ou mesmo não impondo limites a
eles, na tentativa de amainar a culpa pela falta de tempo dedicado à família. Esse mecanismo de consumo cria um alívio ilusório
e momentâneo desse mal-estar. Entretanto, essa conduta pode detonar o
orçamento.
Além
disso, não é raro muitas mães (e pais!) tentarem dar aos filhos tudo aquilo que
desejaram na infância e não puderam ter. É importante não misturar nossa história
com a de nossos filhos. É uma atitude sensata dar aquilo que está dentro de nossas
reais possibilidades.
É
fato que os filhos trazem muita alegria ao convívio familiar, mas também
despesas. Se os pais não puderam fazer um planejamento prévio para a chegada
deles, é importante organizar as finanças o mais breve possível. Os filhos
pesam no orçamento quando os pais não conseguem fazer uma boa gestão de sua
renda.
Dentro da organização de seus recursos é
fundamental planejar o seu futuro financeiro e realizá-lo. Construa uma boa
carteira de investimentos para seus gastos, para sua aposentadoria, e crie
condições para o seu filho um dia também poder fazer a dele. É muito triste ver idosos sem
condições de se manter financeiramente, tendo que viver às custas dos filhos.
Imagine se você, hoje, além de sustentar seus dependentes, também
precisasse sustentar seus pais? Não seria pesado?
Para as finanças, vale a mesma regra dos
aviões: “Primeiro coloque a máscara de oxigênio em você, depois na criança que
estiver ao seu lado”. Pensar em previdência para os filhos antes de garantir a
sua pode ser uma armadilha. Ou você espera que seu filho a sustente na velhice?
Essa é uma inversão de papéis injusta.
Garantida
a sua aposentadoria, você pode, então, pensar no que deixar a seus herdeiros. Se
for possível deixar bens materiais, ótimo. Porém, não é saudável se endividar
ou ter uma vida sacrificada para deixar uma herança aos filhos. Um belo legado
pode ser uma educação consistente, capaz de prepará-los para a vida, com a
permissão para criarem seus próprios caminhos, juntamente com um profundo amor
e apoio incondicional. Se seus filhos forem donos de uma boa autoestima, regada
com bons valores, ousadia e boa cultura, crescer e conseguir gerar a própria fortuna
será apenas uma questão de tempo.
Se
pudermos oferecer a nossos filhos uma educação de qualidade em todos os
aspectos, inclusive financeiramente, estaremos não só contribuindo para que
eles tenham um futuro promissor e uma vida provavelmente melhor do que a nossa,
mas também estaremos colaborando para a evolução da humanidade. Dessa maneira,
eles poderão praticar o consumo consciente, fazendo escolhas inteligentes e se engajando
socialmente na melhoria do planeta.
Angélica Rodrigues Santos – Professora, psicóloga, especialista em Psicologia
Clínica, Organizacional e do Trabalho, autora do
livro “Família, afeto e finanças – como colocar cada vez mais dinheiro e amor
em seu lar”, em parceria com Rogério Olegário do Carmo
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