Guilherme Sardas
Muitos jornalistas adorariam ter na redação uma colega como Dad
Squarisi. Além de editora de Opinião do Correio Braziliense, ela é estudiosa da língua portuguesa e
expressão oral e escrita. Um de seus livros, “Escrever melhor” (Contexto,
2008), assinado com a jornalista Arlete Salvador, figura entre os livros de não
ficção mais vendidos do país – ocupa a 14ª colocação no ranking do Publishnews
e está na 6ª edição, fora duas edições pocket.
Também apresenta o "Fale Certo", quadro que vai ao ar às
quartas-feiras no telejornal do meio-dia da TV Brasília, e assina a coluna
"Dicas de Português", publicada em 15 jornais do país.
Mesmo que trabalhe quase sempre aspectos estruturais do texto, úteis para
todo tipo de redação, é inevitável que a autora tenha uma visão crítica sobre
os textos jornalísticos, parte de sua rotina diária no Correio, onde também mantém o "Blog da Dad", sobre a língua.
Para ela, a piora gradual dos textos jornalísticos deve-se à carência de
profissionais qualificados nas redações, unida a um agravante considerável: a
pressa. “É uma moçada de 22 ou 25 anos, recém-formada, que já carrega falhas de
formação e ainda trabalha demais”. Confira o bate-papo na íntegra.
IMPRENSA – Os textos jornalísticos de hoje são piores do que
antigamente?
DAD SQUARISI – São textos piores do que os que já tivemos. As redações
perderam os profissionais mais qualificados. São muitos jovens. Toda uma
meninada de 22 ou 25 anos. Então, há a falta de experiência em redação, mesmo.
Além disso, as redações estão muito enxutas. Então, essa moçada trabalha
demais, em redações muito enxutas, já carregando as falhas de um ensino médio e
fundamental ruim. Mesmo as boas revistas estão sofrendo com a má qualidade do
texto.
O problema é mais grave nas redações digitais?
Nas redações digitais, tem uma praga da redação que é achar que o leitor
de internet aceita tudo. Não há o menor cuidado. Existem pesquisas que mostram
que mais de 80% do público que acessa a internet está em busca de informação. E
ele quer informação bem apurada e bem escrita. É preciso ter em mente que o
leitor da internet é tão exigente quanto o leitor do impresso.
Quais são os erros mais comuns cometidos pelos jornalistas?
A estrutura do texto. É um samba do texto doido. A falta de articulação,
desenvolvimento e conclusão. Segunda coisa são erros de carência vocabular, muita
repetição de palavras e de estruturas. Terceiro: erros gramaticais, que muitas
vezes são erros da pressa. Às vezes, o repórter não tem tempo para revisar, nem
o editor.
O que você destaca dos erros menos óbvios?
Chamo de erros sofisticados, com pedigree. Eu digo
assim: “Além de estudar, também trabalha no Congresso”. O “além de” indica
adição, assim como o “também”. É um pleonasmo mais sofisticado. Outra coisa que
se vê muito em caderno de esportes é o uso errado do verbo “manter”. “O
treinador mantém a mesma equipe”. Se mantém só pode ser a mesma equipe. Outro
ponto são parágrafos que começam sempre da mesma maneira, por exemplo, sempre
com artigo e substantivo. Não sei se pode considerar um erro, mas torna o texto
muito monótono.
O que você indica para aqueles que sentem a necessidade de aprimorar o
texto?
A primeira coisa é que façam cursos de língua portuguesa. Não tenham
constrangimento. Há cursos muito ágeis que preparam para concursos. Sugiro
também que se faça uma leitura de ponta a ponta de uma gramática. Por que isso
é importante? Porque, no momento da dúvida, a pessoa sabe ao menos onde
procurar a informação. Muita gente não sabe nem onde procurar. Ou seja, estudo
e leitura, não precisa ser nem de literatura, mas de bons textos. Não há empregador
que assuma essa responsabilidade. A responsabilidade é dele. Ele tem que correr
atrás.
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