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segunda-feira, 3 de junho de 2013

Você educa seu filho financeiramente?

Quem está educando financeiramente seus filhos? Saiba que a responsabilidade é sua e de mais ninguém. Mas não se assuste, não é necessário ser um expert em mercado financeiro ou educação infantil para cumprir essa tarefa, basta você dar a eles o exemplo de equilíbrio e sensatez nas lides financeiras, desde o cuidado financeiro diário até o que você faz e comenta sobre seus investimentos.

No Brasil, como também na maioria dos países, são raras as escolas e as famílias que tratam da educação financeira das crianças, então, por falta de modelo, elas copiam os pais, por meio da linguagem não verbal. Esse aprendizado começa cedo. Quem tem filhos com certeza já deu boas gargalhadas ao vê-los imitando os pais, a começar pelo uso do vestuário, passando pelos modos de alimentação e higiene, chegando até aos mais sutis, cujo resultado só se verá mais tarde, como a forma de relacionar-se com as pessoas e com o dinheiro.

Portanto, se você quiser ter filhos independentes e equilibrados financeiramente, seja independente e equilibrado financeiramente. Entre todas, essa é a primeira e mais importante lição financeira que você pode dar a seu filho. As demais lições podem ser dadas com as ações do dia a dia, que, se bem aproveitadas, podem ser exercícios de paciência, tolerância, flexibilidade, coragem e criatividade, qualidades necessárias para formar um adulto de bem com o dinheiro.

Portanto, aproveite as lides diárias para dar aos seus filhos a noção de paciência, a começar por não satisfazer todas as suas vontades a tempo e a hora, incentivando-os a poupar para adquirir algo que eles desejam, como também dando o exemplo, investindo regular e pacientemente para comprar algo, ao invés de contrair um financiamento.

Aproveite as compras para desenvolver a percepção de caro e de barato, fazendo referência à mesada ou a algo que represente bem o seu mundo. Utilize um problema comum, como por exemplo a procura por um brinquedo desaparecido, para estimular a criatividade e a flexibilidade de pensamentos. Estimule as trocas em dias de trocas na escola, na família, na vizinhança: elas têm tudo a ver com a nossa capacidade de utilizar o dinheiro. Que tal, ao receber uma roupa ou um brinquedo novo, doar um velho?

À mesa, não as obrigue a “comer tudo”. As crianças necessitam desenvolver o seu sistema de saciedade e a primeira experiência é com o alimento. Desse modo, se você as obriga a comer tudo, esse sistema poderá não se desenvolver adequadamente e, sem ele, elas poderão, na vida adulta, “necessitar” de tudo para se sentir felizes e realizadas, tornando-se consumidoras vorazes, sem limites para compras e gastos.

Aproveite a mesada para dar grandes lições. A primeira é que mesada não é obrigação e sim educação. Ela deve ser dividida em três partes, uma para gastar hoje, outra para poupar e gastar amanhã, estimulando a paciência e a cultura de investimento, e outra para doar, estimulando a generosidade. Ela deve ser apenas o suficiente para seus gastos, de acordo com a idade. Um bom balizador é dar, até os 11 anos, R$ 1,00 por idade por semana, dobrando esse valor dos 11 aos 15 anos e, acima dos 15 anos, decidindo com seus filhos suas necessidades, obedecendo, evidentemente, o seu limite orçamentário.

Deixe seus filhos fazer, crescer, criar, gerar, pagar, e supervisione sempre, dê limites comportamentais e financeiros e corrija seus erros. Entretanto, se eles forem à falência, mostre o motivo e deixe-os sem dinheiro. Não os socorra. Se isso acontecer, você estará fazendo o papel do banco e ensinando-os, desde cedo, a contrair empréstimos. É melhor quebrar ou falir aos 10 do que aos 50 anos.

Educação financeira é assunto sério, não a delegue aos bancos, à mídia, à cantina da escola ou às telenovelas infanto-juvenis. Imagine-se aos 80 anos tendo que sustentar filhos de 50 e netos de 20. Ensine hoje para ter tranquilidade financeira amanhã.


Rogério Olegário do Carmo é consultor financeiro pessoal e especialista em administração financeira e mercado de capitais pela FGV e coautor do livro "Família, Afeto e Finanças – Como levar cada vez mais dinheiro e amor em seu lar", em parceria com a sua esposa, a psicóloga Angélica Rodrigues Santos.

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