Volta e
meia, sou abordado por escritores iniciantes, em palestras ou por e-mail,
perguntando-me sobre os limites da assim chamada "liberdade
literária".
Colocando
de outra forma: quanto de liberdade podemos usar quando produzindo um texto e
quanto precisamos nos ater a regras? E que regras são essas, afinal? Diálogo
precisa começar com travessão? Posso escrever com erros de português se estiver
representando um personagem que fala ou escreve errado? Posso escrever um livro
da mesma forma que falo? E da mesma forma como escrevo em um blog?
A
pergunta, obviamente, é capciosa, e a resposta ainda mais.
No meu
entendimento, teoricamente você pode
fazer o que quiser quando está escrevendo.
Digo teoricamente,
assim, em itálico, porque há pelo menos dois grupos importantes a considerar:
·
Seus
leitores. Se você quer agradá-los, precisa escrever algo que seja adequado ao
seu público-alvo. Quem compra um livro não espera (por enquanto) encontrar um
diálogo do tipo "Vc naum gosta dela? kkkkkk!".
·
As
editoras. Se você está pensando em vender seu trabalho para uma editora, deve
considerar que um texto com erros propositais, com experimentalismos ou
qualquer coisa que torne a leitura exageradamente difícil, é pouco recomendado,
especialmente para novos escritores.
Isso
quer dizer que você precisará "sacrificar sua arte em prol do
comércio"?
Não. Apenas significa que você precisará, como
todo profissional, estudar, treinar, aperfeiçoar sua capacidade de se expressar
dentro da sua arte – a escrita – para conseguir, de forma mais precisa, mais
completa, mostrar o que deseja mostrar – sem vícios e erros que aparecem com a
desculpa da "liberdade artística".
Obviamente,
quanto mais famoso você for, mais liberdade terá para escrever do jeito que
quiser – mas enquanto não chegar lá, provavelmente precisará ser bem mais
conservador. Lembre-se que Picasso (foto), no início da carreira, era um exímio
retratista, e só depois da fama mostrou ao mundo a arte do jeito que ele
realmente desejava mostrar!
É como
dizia o apóstolo Paulo: "Tudo posso, mas nem tudo me convém"...
Alexandre Lobão
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