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sexta-feira, 1 de março de 2013

Desejo




Eu quis um amor enclausurado,
cercado de mil espelhos,
nos quais eu visse várias faces,
como num caleidoscópio.
Eu quis um amor solto na brisa,
em cambalhotas ao sabor do vento,
seguindo remoinhos de poeira.

Eu quis um amor de remota origem,
retratado nas pinturas rupestres,
esquecido pela tradição oral.
Eu quis um amor efêmero,
que se prolongasse por um átimo,
no encontro furtivo de um olhar.

Eu quis um amor voluptuoso,
cheio de línguas e dentes,
de braços e de mãos,
de calafrios, espasmos e calor.
Eu quis um amor casto e puro,
inocente como São Francisco.

Eu quis um amor sem solução,
uma inequação de fórmula genérica,
que eu nunca soube resolver.
Eu quis um amor dimensionado
pela aritmética que aprendi na escola:
problemas simples com ovos e maçãs
envolvendo as quatro operações.

Desejei tantas coisas...
Quis o amor solto, casto, simples,
efêmero, contraditório, irresponsável.
Mas cansado desses mimetismos,
o amor, exausto, se escondeu.
E hoje, cultora que sou de adjetivos,
Contento-me com o amor vazio.

Edna Vieira Rocha de Rezende




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