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terça-feira, 1 de outubro de 2013

Lucro dos bancos: a responsabilidade também é sua


 
Li no site da revista Exame e em outros sites de economia, a divulgação do resultado do Banco do Brasil e, em minha caixa postal e nas redes sociais, referências, por sinal nada elogiosas, aos lucros também anunciados por outros bancos, acusando-os de ganância exagerada. Houve os que demonstraram indignação com o governo por permitir tal arroubo. Outros apelavam para os santos das causas perdidas. Não vi sequer um que fazia um mea-culpa em relação aos lucros das instituições financeiras.

Lamento informar, mas você também é responsável por esses ótimos resultados. Parabéns! Você colaborou com muitos dos seus recursos pessoais para isso. Faça as contas dos juros pagos, não só sobre o uso dos créditos rotativos do cheque especial e do cartão de crédito, como também pelos desperdiçados nos empréstimos pessoais e consignados que fez. Sem falar nos financiamentos de bens de consumo, veículos e casa própria.

E você que não pagou juros, não se exclua: você investiu em fundos pouco eficientes, com taxas de administração altíssimas. Veja aqueles fundos que pagam prêmios, perdem para caderneta de poupança, cobram 4% ou mais de taxa de administração e são campeões de captação de recursos, alguns com mais de R$ 4 bilhões de patrimônio líquido. E não pensem que estou exagerando, tirei essas informações dos sites dos bancos.

Nisso se enquadra também aquele que pagou tarifas caras e não checou, por puro comodismo, se outro banco oferece tarifas menores. Não cobrou o ressarcimento das cobranças lançadas equivocadamente – aliás, nem prestou atenção nelas. Não pediu desconto das anuidades do cartão de crédito e, pior: aceitou uma venda casada ao adquirir algum produto atrelado a uma concessão de crédito, ou contratou um título de capitalização só para ajudar o seu gerente a cumprir uma meta. Lembre-se de que você não é amigo de seu gerente, e sim cliente – muitas vezes desinformado. Infelizmente, é assim que ele percebe você. Seu gerente sabe que existem bancos melhores e investimentos melhores, mas dificilmente vai lhe dizer isso.

Quero salientar que não sou contra o lucro. Muito pelo contrário, sou empresário e dependo do lucro para continuar em atividade. Pensar que lucro é crime é uma ideia limitante. O lucro sustentável de um não pode estar atrelado ao prejuízo de outro. Ele só é duradouro se vier com a relação “ganha x ganha”, trabalho constante, inovação, pioneirismo, flexibilidade, boa prestação de serviços e boa gestão dos recursos financeiros – qualidade que pode ser aplicada à sua vida e à de sua família.

Pois bem. O lucro dos bancos também provém do desconhecimento que você tem sobre as regras da boa gestão de seu dinheiro, da sua desinformação ou desinteresse sobre assuntos que envolvem finanças e da incapacidade de entender que muitos problemas financeiros são causados pelo seu próprio comportamento. Quer uma prova? Quanto tempo você dedica por semana ao seu cuidado financeiro? E aos seus dentes? Compare! Seus dentes ganharam, não é mesmo?

Assim, é necessário investir tempo para cuidar de suas finanças pessoais e aprender sobre você mesmo e o mercado financeiro. Infelizmente, a maioria dos bancos não vai tomar a iniciativa de orientá-lo e esclarecê-lo com um manual detalhado de regras e dicas. Afinal, quanto mais desinformado você for, mais “especial” você será.

Lembre-se: todos os juros, tarifas e outras taxas que você pagou aos bancos, contribuindo para os lucros deles, poderiam ter ficado na sua conta corrente. Melhor ainda: esse dinheiro poderia ter sido investido, rendendo juros para você, taxas de administração e de performance para gestores e administradores (talvez um banco) e impostos para o governo, colaborando para aumentar a riqueza de todos à sua volta, inclusive você.

Rogério Olegário do Carmo, consultor financeiro pessoal e especialista em administração financeira e mercado de capitais pela FGV, é coautor do livro "Família, Afeto e Finanças – Como levar cada vez mais dinheiro e amor em seu lar", em parceria com Angélica Rodrigues Santos.


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