Leitura e prazer são indissociáveis. São elos
de uma cadeia ligados pelo amálgama que cimenta um dos objetivos do ser humano:
ser feliz. Assim é a leitura. Ela passa pelo prazer de descobrir algo novo, de
sair da realidade e entrar em outra dimensão onde tudo se processa de
forma prazerosa.
Reportemo-nos, então, ao escritor francês Daniel
Pennac[1], cujo
livro “Como um romance” foi publicado no Brasil em 1993, portanto, há 20 anos, e
que ainda contém o frescor de notícias novas.
Para os que se esqueceram do prazer proporcionado
pela leitura, o autor diz:
“Eles tinham simplesmente esquecido o que era
um livro, aquilo que ele tinha a oferecer. Tinham se esquecido, por exemplo,
que um romance conta antes de tudo uma história. Não se sabia que um romance
deve ser lido como um romance: saciando primeiro nossa ânsia por narrativas”.
Fala-se
muito das inúmeras dificuldades de se incrementar a leitura: a ausência de
bibliotecas nas escolas e o preço do livro estão entre as mais citadas. A
despeito de todas as variáveis que influenciam o processo de formação de
leitores, sabe-se que a literatura infantil tem conseguido espaço considerável
junto a escolas e crianças, do maternal aos primeiros anos da escolaridade
básica.
Vamos nos debruçar, então, sobre um aspecto positivo da questão, ou
seja, sobre o fato de que cada vez mais as escolas estão empenhadas em
desenvolver atividades focadas nos eventos de leitura. Em consequência, mais
histórias são lidas e contadas e mais crianças são seduzidas pela magia da
leitura.
Quando se
fala em leitura, ela parece se subdividir em duas atividades: ler e contar. Um
dos traços distintivos delas é que, ao se ler a história, ela é apresentada
preservando as palavras escolhidas pelo autor. O leitor deve se manter fiel ao
que está escrito.
Por outro
lado, na contação da história a trama pode sofrer pequenas modificações, já que
o contador tem a liberdade para improvisar e agregar elementos a ela. Ele nunca
conta a história da mesma forma.
Parece-nos
que o foco não deve ser a característica dicotômica das duas atividades, mas
sim o “acontecer”. Ler ou contar, tanto faz, desde que mais e mais crianças
tomem intimidade com as leituras, com as ilustrações, com os autores, com os
ilustradores, enfim, com o mundo mágico dos livros.
O mais
importante é que ler ou contar proporcione um prazer tão duradouro que as
crianças, ao se tornarem adultas, nunca se esqueçam do que é um livro.
Rubem Alves[2] tem
sua receita:
[...]
Se eu
fosse ensinar a uma criança a arte da leitura, não começaria
com as
letras e as sílabas.
Simplesmente
leria as histórias mais fascinantes que a fariam entrar
no
mundo encantado da fantasia.
Aí,
então, com inveja dos meus poderes mágicos, ela quereria que eu
lhe
ensinasse o segredo que transforma letras e sílabas em histórias.
É
assim. É muito simples.”
ElbaGGomes
[2]
ALVES, Rubem é um psicanalista, educador, teólogo e escritor brasileiro. É autor de livros e artigos abordando temas
religiosos, educacionais e existenciais, além de uma série de livros infantis.
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