Sempre que surge uma data
comemorativa, me pergunto: Por que apenas um dia? Por que não lembrar isso
todos os dias do ano? Aí meu lado racional tenta explicar que uma data é um
resumo, uma chamada, um compromisso com o objeto da homenagem. Por isso, o Dia
Internacional da Mulher. Ocasião propícia para que se formulem ou se
intensifiquem políticas públicas que ajudem a diminuir o secular abismo que
sempre separou o homem da mulher; que as mulheres consigam entender a
responsabilidade que devem ter para com elas próprias, para que se enxerguem
como seres de importância real para a construção de um mundo melhor, onde não
devem mais ser permitidos atos de violência. E me refiro à violência com todas
as suas faces cruéis: a física, a sexual, a moral, a econômica, a doméstica, a
social e tantas outras que surgem a cada dia.
E é às marias brasileiras que dedico
um poema de Cora Coralina. Cora, coral, coralina, aquela que foi um dos maiores
símbolos da luta pela afirmação da mulher, numa época em que as condições eram
adversas e perversas. Ainda assim, essa mulher vigorosa, à frente do seu tempo,
nos deixou um legado que traduz toda a sua sensibilidade, numa visão futurística
do real papel que as mulheres devem exercer na sociedade. Das panelas de doce
às páginas literárias, uma caminhada palmilhada de sofrimento e de alegria; de
realidade e de sonhos; uma vida tecida com a mais fina renda da feminilidade.
Elba Gomes
Assim eu vejo a vida
Cora Coralina
A vida tem duas faces:
Positiva e negativa
O passado foi duro
mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver.
A vida tem duas faces:
Positiva e negativa
O passado foi duro
mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver.
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