Eu quis um amor
enclausurado,
cercado de mil
espelhos,
nos quais eu visse
várias faces,
como num caleidoscópio.
Eu quis um amor solto
na brisa,
em cambalhotas ao sabor
do vento,
seguindo remoinhos de
poeira.
Eu quis um amor de
remota origem,
retratado nas pinturas
rupestres,
esquecido pela tradição
oral.
Eu quis um amor
efêmero,
que se prolongasse por
um átimo,
no encontro furtivo de
um olhar.
Eu quis um amor
voluptuoso,
cheio de línguas e
dentes,
de braços e de mãos,
de calafrios, espasmos
e calor.
Eu quis um amor casto e
puro,
inocente como São
Francisco.
Eu quis um amor sem
solução,
uma inequação de
fórmula genérica,
que eu nunca soube
resolver.
Eu quis um amor
dimensionado
pela aritmética que
aprendi na escola:
problemas simples com
ovos e maçãs
envolvendo as quatro
operações.
Desejei tantas
coisas...
Quis o amor solto,
casto, simples,
efêmero, contraditório,
irresponsável.
Mas cansado desses
mimetismos,
o amor, exausto, se
escondeu.
E hoje, cultora que sou
de adjetivos,
Contento-me com o amor
vazio.
Edna Vieira Rocha de Rezende
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