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segunda-feira, 25 de março de 2013

Caminhos do riso



Esta pesquisa tem como título "Caminhos do riso" porque percorro diferentes estradas para investigar o riso. O que deu nome a esse trabalho foi o filme de Fellini "A estrada da vida", caminho que percorro no primeiro capítulo. Para estudar o riso, foram criadas algumas alegorias tomadas emprestadas entre as inúmeras imagens e sons que compõem a vida contemporânea.

Neste trabalho, realizado na Faculdade de Educação da Universidade de Brasília, área de concentração Tecnologias Educacionais, encontrei oportunidade para sistematizar minhas reflexões sobre o riso. Pude unir várias áreas de conhecimentos presentes em minha formação: artes cênicas, educação, ciências sociais. Na época em que cursava sociologia, consegui desenvolver um olhar importante como pesquisadora. O que aprendi de mais interessante foi uma profunda paixão pelo objeto de pesquisa, tendo momentos de observação, distância, reflexão e participação.

A experiência como atriz foi a que despertou em mim o desejo de escrever e de pesquisar o riso e saber suas fontes, origens e potencialidades.

Outras fontes que foram suportes à minha busca pelo riso, para o meu trabalho enquanto atriz e que me trouxeram reflexões e inspirações para os meus sonhos foram Herbert de Souza e Paulo Freire. Encontrei o sociólogo Herbert de Souza no Fórum do Pensamento Inquieto.[1] O Herbert de Souza falava sobre democracia. Utilizei pela primeira vez o método Paulo Freire em um grupo de alfabetização de adultos, coordenado pela UnB. Alfabetizávamos funcionários da limpeza da UnB.

Assumi a disciplina de artes em escolas de ensino fundamental e ensino médio. Observei a importância do riso para o aprendizado do aluno, uma vez que o riso desperta o interesse e o prazer do educando em aprender. A motivação e o desejo de aprender podem gerar maior aprofundamento no conteúdo porque propiciam concentração, participação, dedicação e divertimento no aprender.

Certa vez, fui convidada a visitar uma escola para contar histórias indígenas. Nessa escola, parecia que todas as áreas de conhecimento estavam integradas e presentes em suas brincadeiras e curiosidades. Quando cheguei lá, estavam fazendo uma oca com galhos de árvores e bambus e dentro dessa oca contei histórias. Percebi a sensibilidade dos alunos em relação à natureza. Essas crianças, na verdade, eram integradas à natureza. O riso estava presente no bem-estar delas.

Descobri com a oralidade, ouvindo histórias, que ensinar é uma palavra de origem cigana que significa colocar o outro em sua sina. A educação, servindo a esse propósito, faz que o educando descubra e siga o próprio caminho. A dimensão da educação passa a estar a serviço da liberdade e da criatividade, formando pensadores diferentes e capazes de, com sua subjetividade, expressar e intervir no meio em que vivem.

Ao pesquisar o riso, deparo com interrogações e inquietações que me fazem percorrer diferentes estradas: qual a relação entre o riso e o choro? E entre a opressão e o riso? Qual a relação entre o erro e o riso? E entre a democracia e o riso? Qual a relação entre o riso e o tempo? O riso é proibido? Como são os diferentes risos, ironia, humor, riso grotesco? Qual a diferença do riso artesanal e industrial? Como seria o riso festivo?

Essas perguntas são refletidas, levando-nos a pensar sobre a contemporaneidade. Convidam o leitor a percorrer algumas estradas onde estarão imagens e sons que o ajudarão a investigar o riso. Nessas estradas, aprofundo inúmeras imagens e faço novas descobertas. Na primeira, "A estrada da vida", estrada que percorro com Federico Fellini, o riso se relaciona com a figura do palhaço presente na relação dos personagens Gelsomina (foto) e Zampano, que são artistas mambembes de circo.

Na segunda estrada, o riso é estudado no movimento das cirandas presentes nas pinturas "Ronda infantil", de Cândido Portinari, e "Alegorias e efeitos do bom governo", de Ambrogio Lorenzetti. Na terceira estrada, me reporto à história do riso e reflito a respeito do riso na atualidade, caminho pelas imagens e sons dos filmes "O nome da rosa", baseado na obra homônima de Umberto Eco, e "Ladrões de sabonete", de Maurizio Nichetti.

Na quarta estrada, observo as características de diferentes risos e suas ambiguidades, percorrendo o universo da imagem de Bosh na obra "Cristo carregando a cruz". Na quinta estrada, estudo o riso festivo ao adentrar a obra "O enterro da sardinha", de Goya.

Clara Rosa Cruz Gomes
Apresentação do livro "Caminhos do riso", Editora Claridade


[1] O Fórum do Pensamento Inquieto ocorreu na Universidade de Brasília, organizado por Clodomir de Souza Ferreira, João Antonio de Lima Esteves e Laura Maria Coutinho, em 1992.

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