Esta pesquisa tem como título "Caminhos do riso" porque
percorro diferentes estradas
para investigar o riso . O que deu
nome a esse
trabalho foi o filme
de Fellini "A estrada da vida" , caminho que percorro no primeiro capítulo . Para estudar o riso, foram
criadas algumas alegorias tomadas emprestadas entre as inúmeras imagens e sons que compõem a vida
contemporânea .
Neste trabalho, realizado na Faculdade de Educação da Universidade
de Brasília, área de concentração Tecnologias
Educacionais, encontrei oportunidade para sistematizar minhas reflexões
sobre o riso. Pude unir várias áreas de conhecimentos presentes em minha
formação: artes cênicas, educação, ciências sociais. Na época em que cursava
sociologia, consegui desenvolver um olhar importante como pesquisadora. O que
aprendi de mais interessante foi uma profunda paixão pelo objeto de pesquisa,
tendo momentos de observação, distância, reflexão e participação.
A experiência como atriz foi a que despertou em mim o desejo de escrever
e de pesquisar o riso e saber suas
fontes , origens
e potencialidades.
Outras fontes que foram suportes à minha busca pelo riso, para o meu
trabalho enquanto atriz e que me trouxeram reflexões e inspirações para os meus
sonhos foram Herbert de Souza e Paulo Freire. Encontrei o sociólogo Herbert de
Souza no Fórum do Pensamento
Inquieto.[1] O
Herbert de Souza falava sobre democracia . Utilizei pela primeira vez o método Paulo Freire em
um grupo de alfabetização de adultos,
coordenado pela UnB. Alfabetizávamos funcionários da limpeza da
UnB.
Assumi a disciplina de artes em escolas de ensino
fundamental e ensino médio. Observei a importância
do riso para
o aprendizado do aluno ,
uma vez que
o riso desperta o interesse e o prazer do educando em aprender . A motivação e
o desejo de aprender
podem gerar maior aprofundamento no
conteúdo porque propiciam concentração ,
participação, dedicação e divertimento
no aprender.
Certa vez, fui convidada a visitar uma escola para contar histórias
indígenas. Nessa escola, parecia que todas as áreas de conhecimento estavam
integradas e presentes em suas brincadeiras e curiosidades. Quando cheguei lá, estavam
fazendo uma oca com galhos de árvores e bambus e dentro dessa oca contei
histórias. Percebi a sensibilidade dos alunos em relação à natureza. Essas
crianças, na verdade, eram integradas à natureza. O
riso estava presente no bem-estar delas.
Descobri com a oralidade , ouvindo histórias ,
que ensinar é
uma palavra de origem
cigana que
significa colocar o outro
em sua
sina . A educação ,
servindo a esse propósito ,
faz que o educando
descubra e siga o próprio caminho .
A dimensão da educação
passa a estar
a serviço da liberdade
e da criatividade, formando pensadores diferentes
e capazes de, com
sua subjetividade, expressar
e intervir no meio
em que
vivem.
Ao pesquisar o riso,
deparo com interrogações e inquietações que me fazem percorrer diferentes estradas: qual a relação entre o riso e o choro? E
entre a opressão e o riso? Qual a relação entre o erro e o riso? E entre a
democracia e o riso? Qual a relação entre o riso e o tempo? O riso é proibido?
Como são os diferentes risos, ironia, humor,
riso grotesco? Qual a diferença do riso artesanal e industrial? Como seria o
riso festivo?
Essas perguntas são refletidas, levando-nos a pensar sobre a
contemporaneidade. Convidam o leitor a percorrer algumas estradas onde estarão imagens e sons que o ajudarão a investigar o riso. Nessas
estradas, aprofundo inúmeras imagens e faço novas
descobertas . Na primeira ,
"A estrada da vida" , estrada
que percorro com
Federico Fellini, o riso se relaciona com a figura do
palhaço presente
na relação dos personagens
Gelsomina (foto) e Zampano, que são artistas mambembes de circo .
Na segunda estrada ,
o riso é estudado no movimento das cirandas
presentes nas pinturas
"Ronda infantil", de Cândido
Portinari, e "Alegorias e efeitos
do bom governo", de Ambrogio
Lorenzetti. Na terceira estrada , me
reporto à história do riso e reflito a respeito
do riso na atualidade ,
caminho pelas imagens
e sons dos filmes
"O nome da rosa", baseado na obra homônima
de Umberto Eco , e "Ladrões
de sabonete" , de Maurizio Nichetti.
Na quarta estrada ,
observo as características de diferentes risos
e suas ambiguidades, percorrendo o universo da imagem
de Bosh na obra "Cristo carregando a cruz". Na quinta estrada ,
estudo o riso
festivo ao adentrar
a obra "O enterro da sardinha",
de Goya.
Clara Rosa Cruz
Gomes
Apresentação do livro "Caminhos do riso", Editora Claridade
[1] O
Fórum do Pensamento Inquieto ocorreu na Universidade de Brasília, organizado por Clodomir de Souza Ferreira, João Antonio de Lima Esteves e Laura Maria
Coutinho, em 1992.
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